domingo, 7 de setembro de 2025

quis, quererei

[31/08]

Quis me declarar pra você
Te dizer
algumas palavras inteiras
Ou te escrever 
Meias verdades...

Deste modo.

Trago aqui meias palavras
e verdades inteiras, 
mas já não tragamos mais

A vida nos levou
alguns prazeres
Nos nossos, insistimos

Quererei me lembrar
de esquecer você
Depois, contraditoriamente
me lambuzar de você

Meu corpo te reconhece
por isso insiste
e lembra
Ou insiste, por isso lembra?

Eu sei e não sei onde piso
Conheço e desconheço o percurso
dos teus rios
em que mergulho

Às vezes, flutuo
quando te encosto
quero me declarar pra você

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Rascunhos


Em meio à bagunça,
há algo de belo.
Nesse caos, decerto,
talvez embaixo da cama?,
há um coração.

Que resiste.
Insistindo, entende,
mas deixa em aberto
(em mar aberto).
Ou dentro da gaveta?

Nele, algo de sublime:
o incompreensível.
Nessa mochila não caberia...
Etéreo, intangível.

Guardei o amor. 
No armário?
Escondi, deixei encoberto. 

O que não vemos
também existe,
distante ou perto. 
Olhou atrás da porta?

*

O peito

outrora carregou o mar
agora anda carregado
apertado
o colo enrijece
nas batidas
os passos
descaminham
desencontrados
ainda cadenciam

descompassado


*

Meu coração não bate,
espanca.

*

Em nome do amor...
Abominável!
Em meu nome,
o medo do caos.
Em seu nome, 
o excesso de medo.
Em nome do caos,
um coração.
Dois.
O inominável.

*

Como dizer o inexplicável?
Como explicar o indizível?

- abril/24

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Confluência

Do ímpeto
de fugir
à vontade
de ficar

Impulso

Do medo,
do caos
Do medo do caos
à calmaria

Entrega

Do silêncio
que grita
Ao grito
silente

Latência

Da nuvem carregada,
do relampejar
À garoa
que desaguou
no nosso rio.

Correnteza


- 12/04/24

sexta-feira, 29 de março de 2024

tudo-tão-tanto

Você sabe do que se trata um encontro de almas? Pois bem, nem eu. Mas, num palpite, diria que é um pouco como o nosso encontro, quando nossas pupilas se cruzam. Tem algo de divino nesse olhar, que é um de dois. Ou seriam nossos olhares a absoluta humanidade? As pupilas se fundindo são o precedente do que há de explodir em seguida. São a anunciação do gozo. O cumprimento da promessa silenciosa, ou da profecia. Vês?, a fusão de corpos. Sentes o meu como se, em alguma medida, seu fosse? Se fosse eu, só, não era tanto. São essas pupilas, também, o momento em si, o todo do instante, e parte do que se suspende, do que levita, mesmo com tanta densidade, com o peso de tantos anos. Ligam-se esses holofotes, luzes fortes no abrir das pálpebras. Para "não deixar esquecer". Para dar contorno, fotografar e, assim, emprestar formatos às memórias. Às vezes eu fico com inveja de mim, sabe? Inveja pelos olhos e pelo corpo que viveram a catarse. São meus, sim, sei bem, mas é como se não fossem. Como se, sabendo os caminhos, tortos, vivessem "por si", para além de mim. Chega a doer aí também? Tens medo? Quando se encontra uma conexão assim, a vida parece até querer lembrar seu fim. "Isso acaba, eu acabo, tudo finda, prepara teu pranto". Não estamos ambas sendo demasiado pretensiosas ao segurar tudo-tão-tanto nos vãos dos nossos encontros, ao guardar esse tudo-tão-tanto no entre dos nossos corpos, ao tentar reter tudo-tão-tanto dessa coalizão? Vale aceitar que, em casos assim, mesmo o pouco transborda. Do que se trata, então, essa infinitude compartilhada? Deveríamos nós contar ao mundo tudo o que descobrimos? Deixamos seguros tantos mistérios nos cantos nossos que já estão descobertos? 


Como dizer o inexplicável?
Como explicar o indizível?

- rascunho
(28 e 29/03/24)

terça-feira, 26 de março de 2024

Não, mas

— Sinto que eu gosto de você há tanto tempo...

— Confortável, né?!, cômodo... mas desconhecido...

(Ainda bem!)


Não é o de sempre, mas é.

Não é novo, mas é também.

Não é fácil, mas isso nunca foi.


Nunca fomos.

Embora.

Embora tenhamos ido tantas vezes.


É o de sempre.

Existe sempre? E nunca? E tanto?