quarta-feira, 17 de abril de 2024

Rascunhos


Em meio à bagunça,
há algo de belo.
Nesse caos, decerto,
talvez embaixo da cama?,
há um coração.

Que resiste.
Insistindo, entende,
mas deixa em aberto
(em mar aberto).
Ou dentro da gaveta?

Nele, algo de sublime:
o incompreensível.
Nessa mochila não caberia...
Etéreo, intangível.

Guardei o amor. 
No armário?
Escondi, deixei encoberto. 

O que não vemos
também existe,
distante ou perto. 
Olhou atrás da porta?

*

O peito

outrora carregou o mar
agora anda carregado
apertado
o colo enrijece
nas batidas
os passos
descaminham
desencontrados
ainda cadenciam

descompassado


*

Meu coração não bate,
espanca.

*

Em nome do amor...
Abominável!
Em meu nome,
o medo do caos.
Em seu nome, 
a falta de medo.
Em nome do caos,
um coração.
Dois.
O inominável.

*

Como dizer o inexplicável?
Como explicar o indizível?

- abril/24

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Confluência

Do ímpeto
de fugir
à vontade
de ficar

Impulso

Do medo,
do caos
Do medo do caos
à calmaria

Entrega

Do silêncio
que grita
Ao grito
silente

Latência

Da nuvem carregada,
do relampejar
À garoa
que desaguou
no nosso rio.

Correnteza


- 12/04/24

sexta-feira, 29 de março de 2024

tudo-tão-tanto

Você sabe do que se trata um encontro de almas? Pois bem, nem eu. Mas, num palpite, diria que é um pouco como o nosso encontro, quando nossas pupilas se cruzam. Tem algo de divino nesse olhar, que é um de dois. Ou seriam nossos olhares a absoluta humanidade? As pupilar se fundindo são o precedente do que há de explodir em seguida. São a anunciação do gozo. O cumprimento da promessa silenciosa, ou da profecia. Vês?, a fusão de corpos. Sentes o meu como se, em alguma medida, seu fosse? Se fosse eu, só, não era tanto. São essas pupilas, também, o momento em si, o todo do instante, e parte do que se suspende, do que levita, mesmo com tanta densidade, com o peso de tantos anos. Ligam-se esses holofotes, luzes fortes no abrir das pálpebras. Para "não deixar esquecer". Para dar contorno, fotografar e, assim, emprestar formatos às memórias. Às vezes eu fico com inveja de mim, sabe? Inveja pelos olhos e pelo corpo que viveram a catarse. São meus, sim, sei bem, mas é como se não fossem. Como se, sabendo os caminhos, tortos, vivessem "por si", para além de mim. Chega a doer aí também? Tens medo? Quando se encontra uma conexão assim, a vida parece até querer lembrar seu fim. "Isso acaba, eu acabo, tudo finda, prepara teu pranto". Não estamos ambas sendo demasiado pretensiosas ao segurar tudo-tão-tanto nos vãos dos nossos encontros, ao guardar esse tudo-tão-tanto no entre dos nossos corpos, ao tentar reter tudo-tão-tanto dessa coalizão? Vale aceitar que, em casos assim, mesmo o pouco transborda. Do que se trata, então, essa infinitude compartilhada? Deveríamos nós contar ao mundo tudo o que descobrimos? Deixamos seguros tantos mistérios nos cantos nossos que já estão descobertos? 


Como dizer o inexplicável?
Como explicar o indizível?

- rascunho
(28 e 29/03/24)

terça-feira, 26 de março de 2024

Não, mas

— Sinto que eu gosto de você há tanto tempo...

— Confortável, né?!, cômodo... mas desconhecido...

(Ainda bem!)


Não é o de sempre, mas é.

Não é novo, mas é também.

Não é fácil, mas isso nunca foi.


Nunca fomos.

Embora.

Embora tenhamos ido tantas vezes.


É o de sempre.

Existe sempre? E nunca? E tanto?


sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

3ª série B

Cê me dá licença?

Um minuto Cê me dá? Bom te ver. Às vezes fico... Pensando

Um encontro, a realidade, a gente vai se acostumar a guardar o desejo A gente se encaixa no desejo Vamos aceitar a chama Apagar Um encontro, A realidade vira muitos flashs Cenas de você Ainda bem... Não se apagou aqui Guardei as borboletas Uma para cada pinta Quis fazer fogueira Quis tocar as faíscas Ainda quero: tocar
você Cê me dá um minuto? Até lá Cê me dá licença dos pensamentos um minuto?


- ressaca (26/01/24)