Sempre: deve ser um exercício que não existe. Mas, constantemente, que possamos rasgar o
perigo e acelerar o coração. Temos anseio. Nós, atadas. Teimo por ter conhecido
essa escrava da adrenalina, por soltar meus olhos, por me colocar debaixo das
asas, que não servem só para voar – protegem do frio.
Nós mesmos somos os processos, não estar junto nunca foi fato. A gente acredita
no tempo, mas não controlamos as mudanças, as pausas, os assentamentos.
Controlamos as tempestades para existir algo.
Língua: existe só, na nossa saudade. Às vezes estamos, noutras, silenciamos.
Nosso descontrole é a própria memória da vida, nas mãos. Também faz parte todo
esse egoísmo do esquecimento. Lamento. A pureza de sobressair à dificuldade.
Deixar os contratempos abaixar toda essa sujeira abaixo dos pés, dos olhos.
Nunca sei dizer e peno, por ora, em escrever. É impossível subir no trem,
sentar em um lugar, em seguida descer e, rapidamente, subir no mesmo vagão. Os
poetas, bem como os vagões, mudam seus destinos, mas, em movimento, não deixam
de ser eles mesmos.
Clareza é valiosa na dificuldade de amadurecer. Só quem passa pelo fulgor pode
reconhecer e chegar com plenitude.
Estou confusa, mas fiquei. Porque em mim está acordada a noite, o calor. Tenho
medo de somente estar nas coisas em vez de ser. Agir. Reagir.
O destino é o próprio caminho. É ir. Prosseguir. Tentar perceber os motivos,
que encontraremos no decorrer de cada viagem. Continuar.
Sim, precisamos ter desobediência.
O que está vivo no encontro das línguas não deve ser contido.
Pelos dias claros, a essência e os odores verdadeiros:
quero o mais profundo. O toque. O mais intenso. A respiração. O que anda
guardado. O suspiro. As lágrimas. Todo mar que já foi navegado. O desconhecido.
O velho. O que ainda não cessei.
Nunca é igual. Devemos buscar alicerces, porque juntas a estrutura não se
desconstrói sozinha. Nunca vai ser igual.
Cortam os troncos, talham as árvores. Para tanto, o zelo precisa continuar
vivo. Nas raízes está o cuidado.
Isso é fado.
Nunca nos apagaremos. Mas, a cada estrela não acesa, perdemos a tentativa.
Tentar é fôlego, é força. Portanto, estamos perto de uma vontade e não
precisamos forçar a resposta, a explicação. Sentir, neste momento, é querer...
Tentar.
Sei que preciso moldar muitas formas que busquei me modificar. Creio que
esculpir seja um eterno ofício da vida: lixar, rodar, tatear, equilibrar. É
preciso adentrar as coisas escavadas. Esculpir o rio, a pedra, a estrutura, o
eu.
Adentrar o oco. Interiorizar as texturas.
Estamos insuficientemente envergadas, hastes que precisam de qualquer brisa.
Sempre nos ritmos delas. Ainda que eu não dance, nem balance... Sinto.