quarta-feira, 22 de outubro de 2014

É que nós...

Resposta ao texto: Equinócio, de Carolina Sanches

Sempre: deve ser um exercício que não existe.  Mas, constantemente, que possamos rasgar o perigo e acelerar o coração. Temos anseio. Nós, atadas. Teimo por ter conhecido essa escrava da adrenalina, por soltar meus olhos, por me colocar debaixo das asas, que não servem só para voar – protegem do frio. 
Nós mesmos somos os processos, não estar junto nunca foi fato. A gente acredita no tempo, mas não controlamos as mudanças, as pausas, os assentamentos. Controlamos as tempestades para existir algo.
Língua: existe só, na nossa saudade. Às vezes estamos, noutras, silenciamos. Nosso descontrole é a própria memória da vida, nas mãos. Também faz parte todo esse egoísmo do esquecimento. Lamento. A pureza de sobressair à dificuldade. Deixar os contratempos abaixar toda essa sujeira abaixo dos pés, dos olhos.
Nunca sei dizer e peno, por ora, em escrever. É impossível subir no trem, sentar em um lugar, em seguida descer e, rapidamente, subir no mesmo vagão. Os poetas, bem como os vagões, mudam seus destinos, mas, em movimento, não deixam de ser eles mesmos.
Clareza é valiosa na dificuldade de amadurecer. Só quem passa pelo fulgor pode reconhecer e chegar com plenitude.
Estou confusa, mas fiquei. Porque em mim está acordada a noite, o calor. Tenho medo de somente estar nas coisas em vez de ser. Agir. Reagir.
O destino é o próprio caminho. É ir. Prosseguir. Tentar perceber os motivos, que encontraremos no decorrer de cada viagem. Continuar.
Sim, precisamos ter desobediência.
O que está vivo no encontro das línguas não deve ser contido.
Pelos dias claros, a essência e os odores verdadeiros:
quero o mais profundo. O toque. O mais intenso. A respiração. O que anda guardado. O suspiro. As lágrimas. Todo mar que já foi navegado. O desconhecido. O velho. O que ainda não cessei.
Nunca é igual. Devemos buscar alicerces, porque juntas a estrutura não se desconstrói sozinha. Nunca vai ser igual.
Cortam os troncos, talham as árvores. Para tanto, o zelo precisa continuar vivo. Nas raízes está o cuidado.
Isso é fado.
Nunca nos apagaremos. Mas, a cada estrela não acesa, perdemos a tentativa. Tentar é fôlego, é força. Portanto, estamos perto de uma vontade e não precisamos forçar a resposta, a explicação. Sentir, neste momento, é querer... Tentar.
Sei que preciso moldar muitas formas que busquei me modificar. Creio que esculpir seja um eterno ofício da vida: lixar, rodar, tatear, equilibrar. É preciso adentrar as coisas escavadas. Esculpir o rio, a pedra, a estrutura, o eu.
Adentrar o oco. Interiorizar as texturas.
Estamos insuficientemente envergadas, hastes que precisam de qualquer brisa.
Sempre nos ritmos delas. Ainda que eu não dance, nem balance... Sinto.

B.B.

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