É de praxe cruzarmos com muitas
pessoas pelas ruas, a todo momento. Basta sair de casa para sentir na pele, ou
melhor, não sentir, a constância com que passamos por cidadãos. Apenas passar,
atribuindo naturalidade a esse encontro de corpos num espaço não determinado
previamente, traz a origem do problema de invisibilidade social.
Essa não visão do outro é
problemática, uma vez que é conferida à população por meio dos padrões de
consumo e situação social em que se encontram. A maioria das relações sociais é
pautada pelo material, ou seja, pelo o quê e quanto se possui. Conhecemos e
interagimos com alguém por meio dos mecanismos de conveniência que ambas as
partes podem proporcionar.
A fim de melhor exemplificar,
recorremos aos garis, borracheiros, pedreiros, faxineiras, cobradores, entre
outros prestadores de serviços específicos que têm grande parcela na estrutura
da civilização e garantem a pirâmide em seu “devido” lugar, como ditam as
preferências burguesas (médias e altas).
Muitos são os transeuntes que não
percebem a presença sutil do outro em seu lugar de trabalho, ou até de moradia,
como é o caso dos mendigos. Por não
haver necessidade de se encarar, ou de conversar para resolver pendências,
tornamos os inferiores economicamente menos importantes.
Nesse aspecto reside um grande
erro da modernidade, pois são por esses serviços básicos e que quase sempre
exigem uniformes particulares e evidentes, que a civilização possui dinamismo e
caminha para eficiência nos serviços “discretos”.
Com destino traçado, atraso e
correria, as pessoas passam pelos pedintes e trabalhadores e os encaram como
parte da paisagem e da urbanização. Reivindicamos melhores direitos, moradias,
impostos e até reclamamos desses fatores “feios” sujando as metrópoles. No
entanto, poucos recorrem às instituições responsáveis a fim de alterarem essas
condições. Até porque o pensamento forte dita: não me diz respeito, não me
interessa.
O ser humano só é socialmente
aceito se criar vínculos, se formar relações e graus de subordinação,
principalmente econômica (socioeconômica). A partir daí que se montam as
classes. Geralmente, quem está embaixo na escala, está tendo que trabalhar
muito para se sustentar e não sobra disposição ou tempo para se preocupar com
qualquer classificação.
Infelizmente, pensa-se demais para dentro.
Externamente, enxergamos apenas os apelos promocionais e de publicidade.
Passa-se uma cidade de geração em geração e o comodismo é tanto dentro das
camadas que só vemos quando queremos ou somos solicitados. Para crer, só é
preciso existir e andar alguns quarteirões.
Há indiferença em muitos setores.
Vê-se mais a função exercida pelo indivíduo (quando vê) que a sua
personalidade. É como submetermos pessoa à máquina. Experimente tirar os
lixeiros e as faxineiras de circulação por aproximadamente um mês e se notará a
diferença, a participação marcante desses grupos considerados “menores”, mas
que tanto influenciam no funcionamento da sociedade atual e preconceituosa.
empoeirado (2012)
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