E
então nasceu mais um lírio. Agora são quatro, os outros dois escolhi que
representassem nosso sentimento, que por aqui nasce amarelo e aos pouquinhos
vai ficando vermelho. Vermelho escuro! O dia está claro. Quis te escrever
quando partiu, mas seria uma tempestade. Prefiro chuviscar devagar e que reste
a ponta do desejo, ou ele todo. Por aqui ele dá pontadas de saudade, mas é a
falta de saber que encontraremos, uma os olhos da outra, depois, não daqui a
pouco. É falta por ontem, por hoje e por amanhã. Hoje eu não corri pra chegar
em casa, não dei desculpas esfarrapadas, e não fugi contigo. Sua pipa
está voando alto por aqui, chegando longe, mas não deixa de jeito nenhum
desaparecer suas cores. Escrevo sem parar e quero poetizar tudo, até a cor do
quadro da sala me suplica ser palavra. Transcrever sua ausência temporária de
corpo. Do espírito, eu sinto falta do aperto, do mais sutil, que acaricia e
tranquiliza, ao mais arrebatador, que arrepia, contorce, amolece e contrai, e o
coração distrai... Queria que me colorisse toda com seu
toque certeiro, pintasse minhas pintas. Faça pedido às minhas estrelas, more nelas. Pode morar dentro
de mim, não vejo mal. As minhas curvas sinalizam teu sentido, de onde
você se encontra. E não esqueça que se nossas linhas não fossem tão tortas,
nunca teriam se cruzado. Convivo com teus amigos todos os dias, e logo contigo
nas entrelinhas. E a prática mente, porque eu me ocupo, mas em alguns momentos
– não raros – você toma conta. Pelos lírios, pela caixa feita com cartão postal,
pelo balão, pelo avião. E passou mais um... E morreu um lírio.
- empoeirado
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